terça-feira, 3 de agosto de 2010

Aborto: não adianta me acusarem de católico; precisam é provar que estou errado

"Comentários de pessoas que não concordam comigo sobre o aborto estão sendo publicados. Minha única exigência é que a abordagem seja civilizada e que a opinião não seja elo de corrente organizada, de lobby. Quanto ao mais, dizer o quê?

Sim, sou católico, orgulho-me disso, e minha opinião certamente está influenciada pela minha religião — como, suponho, o ateísmo de uns tantos interfira no seu posicionamento sobre isso ou aquilo. Em suma: não crer em Deus não é nem superior nem inferior a crer. Não confere a ninguém o diploma da razão. Até porque São Tomas de Aquino, por exemplo, fez mais pelo pensamento moderno do que a totalidade dos que entortam o nariz para o cristianismo. O que falta a boa parte não é opinião, como se nota, mas estudo. E eu escrevo para pessoas que prezam o estudo, nunca escondi. Não sou nem tento ser um articulista “popular”. Nem mesmo escrevo textos curtos. Não obstante, o blog é um sucesso. Estranho, né? Pois é…

Especular sobre a minha religiosidade para desqualificar a minha opinião sobre a legalização do aborto é uma tolice. Afinal, conheço ateus que se opõem à tese porque consideram, fora de qualquer abordagem de cunho espiritual, que “aquilo” é vida humana — e ancoram, pois, a sua opinião no que consideram uma derivação de seu humanismo.

Também é bobagem vociferar: “Você não entende nada de pesquisas…” Não? É pouco para me contestar. Digam, então, por que não. Se o argumento mais forte que os defensores envergonhados do aborto tinham a exibir no Fantástico (ver post da madrugada: http://bit.ly/czCFaz) eram aqueles dados, eu, é inescapável constatar, fiz picadinho deles. Não restou um só inteiro. O suposto número “espantoso” de curetagens nada tinha, afinal, de espantoso. Demonstrei por A + B. Tratar da descriminação do aborto, ainda que por vias oblíquas, usando números de procedimentos no SUS que ignoram os abortos espontâneos corresponde a fazer má ciência e mau jornalismo. A soma dos dois resulta apenas em boa militância — “boa” para a causa; má para a verdade dos fatos.
 
Sou católico, sim. Se fosse metodista, presbiteriano, batista, budista, judeu ou islâmico, os números não seriam diferentes. Continuaria a nascer uma média de 2,8 milhões de bebês por ano no Brasil; o índice de abortos espontâneos continuaria a ser de 25%; os abortos espontâneos continuariam, então, na casa dos 930 mil, e esses dados desconstroem o edifício teórico que se tenta construir em favor da legalização com números perturbados. E não há câmera escondida que mude isso.

Para encerrar

A reportagem do Fantástico mostrou que policiais militares do Pará faziam a segurança de uma clínica de aborto. Bem, isso nada tem a ver com a legalização ou não. Fosse legal, eles procurariam outro bico. Isso é só sinal de descontrole da Polícia de Ana Júlia Carepa. Afinal, naquele estado, uma menina, menor de idade, ficou presa numa cadeia lotada de marmanjos. O exemplo vem a calhar, não? Caso se legalize isso também, o que parece um horror será considerado normal, como dizer: “Hoje é segunda-feira”.

Não! Acusar-me de católico é pouco para me contestar. Até porque não é acusação. O que tem de ser contestada é a minha contestação. Até agora, não foi! Aguardo. Os meus adversários na questão certamente melhorarão seus argumentos, o que contribuirá para que eu melhore os meus. O mundo, assim, fica mais divertido."

Por Reinaldo Azevedo (http://bit.ly/bmejie)

Nenhum comentário: